domingo, outubro 01, 2006

A Queda do Mandarim




Por sete séculos eu fui
Escrava devotada de um mandarim
Trançava ouro em seus bigodes, seus pagodes
Forrava sua cama de cetim
Regava suas flores de cristal
Bordava rouxinóis em seu jardim
E agora, com a queda do Império
Falando sério
O que será de mim?*
..........

E houve a queda do Império
E eu que achava que seria meu fim
Descobri meu início
O começo de uma nova forma de olhar e entender a vida
Completamente diferente da escrava devota
De um Mandarim
Me descobri escrava devota de Mim
Com minhas rosas
Minhas roupas de seda
Beija Flores nas janelas
Meus colares coloridos
Minhas orações cantadas diariamente
Meus livros das mais de mil e uma noites

Vivi tanto em função do belo Mandarim
Em dar a ele todo meu afeto
Que esqueci de me dar este mesmo afeto molhado pelas águas salgadas do mar
E ele
O Mandarim pouco se importou com tudo o que recebeu
Na verdade ele acreditou que era uma obrigação da escrava ....

O que nunca foi,
Só ele não percebeu
Pois como fora criado dentro de seu Império
Não aprendeu a perceber quem não fosse ele

Hoje penso neste Mandarim e tenho pena da sua eterna solidão
Pois jamais saberá viver sem seu Império
Ao mesmo tempo em que eu
Escrava devotada e que o adorava
Encontrei a vida, fora dos muros
Fora das indiferenças
Fora das mentiras

Hoje escrava aprendiz da minha vida
Livre pelas ruas
Com o coração leve
Arrumo minha cama com cetim
Bordo milhares de beija flores nos meus dias
E me banho com o ouro da beleza
Da luz
E da riqueza que conquistei
Depois de deixar o Mandarim e suas inutilidades de amor


* O Mandarim
Cida Moreira
Composição: Jussi Campelo

9 Comments:

Blogger virgínia além mar floresta vicamf / said...

Maga Ritinha belo Post !
Como sempre nos brindando com textos que fazem pensar e.. acoradr.
divulgarei,
tua sempre
grata amiga,
além mar virgínia

01 outubro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

oi rita
q lindo o texto
acho q todo mundo ja foi um dia devoto de um mandarim
adorei
mil bjos
leonardo geronazzo

01 outubro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Amei este texto...tão cheio de sentimento.
Parabéns. Muito boa escolha.

04 outubro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

OLA!TU SO PODES AMAR ALGUEM DEPOIS QUE CONSEGUIRES AMAR A TI MESMA.UM FORTE ABRAÇO,SEMPRE TEU NA BUSCA.....

04 outubro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Linda a letra da música......
S.D.

05 outubro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Num esforço para galgar o amor próprio maior... estou aqui. Tomando lições. Aprendo.
Voltei aqui para lhe dizer o quanto é bom tê-la como amiga e receber de você, dádivas como esta.
Meu xêro e minhas reverências.

11 outubro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Tuas palavras...singelas, singram o etéreo, meu corpo, teu corpo-alma.
Bjs
Ingrid Morandian

21 outubro, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Rita, tardiamente posto este comentário, mas espero que vc ainda o encontre!!! Vc sabe que eu era tão criança qdo compus esta canção, há mais de 20 anos, que ocupei-me apenas da sonoridade, sem mesmo refletir profundamente sobre seu significado...Portanto alegro-me que vc tenha feito esta reflexão por mim, e mais, levado esta reflexão `a sublimação! Que voemos por sobre nossas canções e vejamos sempre muito além delas!!

04 janeiro, 2007  
Blogger Expressão Corporal said...

Minha irma....
Minha grande e eterna amiga..
Todos temos Um MANDARIN em nossas vidas..
Amo vc demais...um dos textos que mais amo....
Pois podem mudar os dias..os tempos..mais sempre existe um novo mandarin, e de formas diferentes...
beijossss

26 junho, 2008  

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