terça-feira, fevereiro 28, 2006

Em um lapso do segundo,o Caos se estabeleceu




Em um lapso do segundo, entre uma letra e outra
Entre um piscar e o outro
Entre um respiro e seu circular
O Caos se estabeleceu
Do nada
De tudo o que acontece, demoradamente dentro de cada sentir e pensar
O imenso buraco do nada estava tecendo minha vida
Uma escuridão total
Cegueira interior onde os pensamentos não mais existem
Só a certeza que nada é
Nada pode
Nada acontece
Nada existe

Por um simples momento entre segundos
Não havia possibilidade de existência
De saída
Ou entrada para um outro momento não infinito do Nada ser
Tudo era início
Escuro e fértil início
Mas desconhecido e assustador
O “ instante já “ que já não é mais
O absoluto completo

Não sou,
Embora volte a ser no próximo segundo
E sem saber como será este próximo segundo
Esse próximo minuto
Hora
Dia
Tempo
Espaço
Existência contínua de emoções diferenciadas e possessivas
Movimentos interruptos de sangue correndo entre veias dilaceradas e re criadas
Sentimentos vorazes e carentes intercalando -se
Na busca da saída destes entre segundos de agonia ignorante
Mas alimentos para as construções, estruturas do meu ser
Eternamente insatisfeito com o pulsar orgânico do que descubro e apreendo dentro de uma memória sensorial

O instante se desfaz
O lapso entre tempos de segundos termina no novo segundo desconhecido
E assim vou a cada momento
Tentando entender o que jamais poderei saber pelo entendimento
Mas sim,
Pelo entregar-se a cada um destes segundos eternos de sensações, visões e intuições silenciosas e agudas ....

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Que a transformação do vinho em sangue seja completa


Segunda Feira ...brilha o sol, em um calor sem ventos ...
Invoco a chuva, os trovões, os raios, o vento para que mude a direção dos desejos silenciosos, ocultos e sombrios ...
Invoco as águas que lavam as ruas, para que que lavem o tempo e o espaço,
fazendo-os sagrados
Que a transformação do vinho em sangue seja completa
E que esse sangue percorra todos os corpos, sacralizando a vida,
mais uma vez
no exato momento
em que todos se esquecem de ouvir o silêncio dos pássaros durante o enorme temporal
Que as luzes dos raios mostrem êxtases de prazer indescritíveis,
somente possíveis a corpos entregues .... inteiramente entregues ao pulsar violento
Que todos os pássaros se escondam em completo ritual de observação
Que a musica dos ventos gritem às Santas e aos Santos todas as orações de
devoção
e

Que os pequenos e os grandes
Os visíveis e invisíveis se juntem nesta torrente de forças incontroláveis
Para a chegada da nova lua
Que hoje se modifica
Nova
Possível,
início de um momento eternizado e repetido internamente
A criação repetida no caos e do caos
Que a lua abra as nuvens
Afaste cada uma delas com seu brilho
E interrompa a tempestade
Que já modificou o desenho dos caminhos marcados pela Pemba
Que traga os pássaros para secar as asas
E voar e cantar o silêncio do dia
Que traga a calmaria de corpos molhados e cansados depois do amor longo
E da comunhão de gozos
Que brilhe exuberante no céu

Como outra rainha poderosa

Que nos faça orar de beleza e força
Que finque no chão a transformação da tempestade
Agora calmaria molhada de luz de lua
E que assim a vida se renove ....por todos os Santos e todos os não santos
Amém

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

O Escolhido ....O que não tem Volta


As encruzilhadas são infinitas em uma só existência ...e a obrigação de escolher por qual rumo seguir, torna os dias mais inesperados e impalpáveis.
Quando uma única escolha é feita, milhões de possibilidades são modificadas
Locais esquecidos, sonhos perdidos, certezas duvidosas ...um novo horizonte se abre
Outro
O Escolhido
O que não tem Volta
Pois tudo se re constrói a partir ...
As cartas falham
Os búzios erram
E a vida se renova por estradas de terra, ou cimento, ou paralelepípedos
Um caminho que encontra outras encruzilhadas
Que nos obriga a outras escolhas
Que nos mostra outras realidades
Que nos empurra para outros caminhos e encontros
Todos guardados na memória
Mas inimagináveis na fantasia
É um rodar, andar, ir e voltar
Um voltar para o que já não é
Por isso nada do que foi será e as nuvens a cada momento desenham diferentes formatos
O balanço das folhas sempre dançam uma nova música
Ainda a ser composta,
só no ato da dança
E o cheiro invisível que guia a intuição vai carregando os corpos por escolhas
Por vezes sensatas
Por vezes insensatas
Mas as intermináveis escolhas, Caminhos de Compostela interiores
Pessoais e silenciosos
Fundamentais para a continuação de existir seja em que tempo for
Em que plano for
Em que estação for ....
Caminhamos e Caminhamos escolhendo entre encruzilhadas
Eternamente encontrando encruzilhadas.


Imagem – Caminhos de Vanda Guerreiro

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Os dias tocam piano....Tocam Bach ao passar da tarde



Entro noite adentro por locais que não conheço, ruas longas e escuras ... onde só um fino fio de luz mostra sombras
Caminho de sombras que sigo em silêncio, que sigo por me deixar levar, por sentir ser finalmente um caminho que terá final.
Sigo estrangeira por onde passo, por olhares desconhecidos, comentários assustados e duvidosos ....
Louca procura
Loucas atitudes para os mais fixados no concreto...
Não sinto este viver fora das constantes visões embaraçadas, dos pensamentos sem tempo, dos sonhos que se realizam apesar de parecerem impossíveis
A vida conspira a favor das visões e sonhos que se escondem nas sombras da minha vida ...
A rua é longa, mas vejo o final em fotografias que rasgam, envelhecidas e amareladas,
Encontro que me roube e quem me acolhe e de ambos formo minha alma de eternidade ....
Os dias tocam piano
Tocam Bach ao passar da tarde
E me deixo levar lentamente ao movimento da nota ....caminho ao som que me alimenta de coragem,
Pois é longa a caminhada nesta meia luz
Que guarda meus medos, monstros, anjos , medusas e o mais profundo do inferno e do clarão do saber ... uma caminhada para algum lugar onde se esconde eu mesma, inteira, plena, repleta, exuberante e cheia de luz...
Estrangeira neste lugar onde vivo e convivo abraço minha intuição para sobreviver a cada golpe dado, a cada explosão da percepção ...
Vivo buscando pelo caminho das sombras e focos de luz o que me conduz a cada amanhecer,
Lúcida ou Louca, não importa .....sempre em busca
De algo
De mim
De além de .....
De algum lugar à frente ou atrás
De um milagre ou maldição
De uma existência plena de perceberes e percepções
De visões e da cegueira externa e interna
De momentos de cansaço e desespero pela não finitude desse vagar impossível de parada
Impossível de calmaria, pois a vida é um fervilhar de emoções estações atenções
Por caminhos da intuição devo andar, iluminada por uma certeza, uma profunda certeza
E é este vale de sobra e luz que a cada momento me vejo passar
Mas vendo lá ao fundo a chegada.