terça-feira, janeiro 24, 2006

As Três Parcas Fiam .....


As Três Parcas fiam, dobram e cortam o fio da Vida ... uma na roca tecendo os dias, outra faz girar o fuso e fia o Destino e a última torna o Destino imutável, corta o fio medindo o comprimento da Vida e assim determina o momento de partir.
E a partir deste momento um novo destino se inicia ...
São tantos fios neste Labirinto sem Ariadne, tantas passagens para o outro Universo Desconhecido .... que na medida em que vamos andando por esta vida, nos damos conta da fragilidade que é não cortar este fio, a percepção da finitude embora infinita, nos mostra o quanto nada somos no comando dos dias ...
O sol bate forte e quente nos meus olhos esta manhã, me lembra que meu corpo sente, minha pele queima, minha alma me habita ... meu fio continua a ser tecido, mas até quando, eu não tenho o saber.
Então olho a rua, penso em possibilidades, deliro com prazeres, sonho com felicidades, encontro outros olhares, escuto outras palavras, descubro bobagens e descubro verdades que se desfazem com o tempo. Aproveito todo ar que vem a meu encontro, respiro fundo em êxtase e sei que meu fio será cortado em algum momento e aí poderei descobrir este outro mundo, dentro de mundos que estou a espera .... para também Viver outro fio, trabalhado por outro tipo de Parcas.
Minha alma habitará outro ser, de alguma espécie, de algum lugar no espaço tempo e profundidade ...e eu serei

Novamente serei

Por mais um novo tempo estarei vibrando pelo cosmo como outra, como outro, como nada ....mas estarei solta em algum vácuo em direção, a quem sabe onde ....
Tudo é frágil e passageiro, o fio da linha é fino e pode ser rompido com muita facilidade ... então o que resta, é sentir este milésimo de segundo profundamente, deixar-se ao som da música que toca no ar, mover os músculos deste corpo abrigo em direção aos dias ....
Até o final do fio .... passagem para,

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Olhos Castanho Esverdeados no Tempo


Lembro-me que era uma rua em forma de T ...era larga e clara e na curva para a direita, no final da feira, onde se vendia de tudo ... especiarias, roupas, animais, objetos ... estava à casa branca, de porta alta ....embora as casas fossem todas baixas, de um andar apenas.
A areia do chão era da mesma cor das casas e quando o vento batia era uma mistura igual pelo ar ...
Bati na porta e um homem muito alto, de cabelos pretos e olhos castanho esverdeados atendeu ...meu coração batia tão forte, que parecia explodir no peito.
Convidou-me para entrar e em sua sala só havia papéis sobre a mesa, uma enorme mesa de madeira ...uma janela me mostrava um pátio interno, sem plantas, sem cores ...
Nos abraçamos como se fosse há tempos futuros ou passados que não nos víamos, como se séculos havia entre nós ...
Que abraço gostoso, quente, forte .... abraço aguardado.
Depois me ofereceu café, sentamos olhei os papéis e não entendia as letras ... mas entendia o que estava escrito ... minha vida estava toda lá, escrita
Cada detalhe, cada sentimento, cada movimento, cada interrogação
Sorrimos, pois a palavra não era usada ...de alguma forma conversávamos sem mexer os lábios .... seus olhos castanhos esverdeados e meus olhos castanhos esverdeados – como em dia de sol – falavam tudo....
Já éramos tão conhecidos um do outro que não se fazia necessária à palavra .
Estávamos novamente juntos e era só o que importava, só não sabíamos por quanto tempo, então era preciso aproveitar cada sensação desse encontro, cada prazer de nos tocar com aquelas roupas de algodão puro.
A alegria de sempre ter sabido deste encontro era enorme, e naquele momento ele era real, não mais uma intuição, um sonho acordado ...
Éramos finalmente aqueles que sempre estiveram juntos e que esperaram uma eternidade para se re encontrar....frente a frente, no mesmo estado de consciência.
Mas o tempo não parou para o nosso encontro ..... como um carrasco continuou andando, fazendo com que soubéssemos que logo estaríamos separados novamente e que só em outro lapso de tempo/espaço poderíamos nos olhar dentro da alma ...
E com a cadência deste tempo fomos perdendo a alegria, a saudade já se fazia antes mesmo da despedida, o saber do que viria logo após nos deixava cada vez mais tristes.
E foi assim, com uma lágrima castanho esverdeada fui obrigada a ir embora, olhando teus olhos molhados castanhos esverdeados ansiosos como o meu, pela vontade de nunca mais nos separar .... uma onda gigantesca cobriu nossos corpos e foi lavando e levando tudo embora, nos afastando cada vez mais ...e nos olhávamos nos afastar, com o peito doendo, rasgando de uma saudade eterna.....
Que de tempos em tempos nos é permitido abrandar, mas que não acaba jamais.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Vela que queima ao sabor do Cravo da Índia


Em meio a este deserto de alucinações, onde ventos incessantes me fazem ficar presa ao profundo do chão,
Quando consigo abrir os olhos vejo o que seria um oásis
Mas andando contra este vento que me empurra de volta, encontro um oásis cheio de sombras, seco e infértil ...
Olho para trás e novamente outro oásis, mais para a esquerda em longas caminhadas
E volto a lutar contra o vento, que tanto amo,
Neste oásis água gelada, visão distorcida de alguém mais ao fundo
Ando mais e mais ao encontro, de quem não vejo com precisão
Meus pés afundam na areia
O calor me sufoca e queima minha pele
Mas lá está quem não vejo
Pois quando abaixo a cabeça, para fugir do sol
Desapareceu ...
À noite o frio chega forte, e ao pé da fogueira acendo uma vela
Uma vela a quem não consigo ver claramente, mas sinto ao meu lado
Quero ouvir uma música,
Só tenho o som do vento e este vento fala, como todos os ventos
Canta aos meus ouvidos para segui-lo
E eu assustada me lembro de Ulisses ...... seria o vento uma sereia ?
Não sinto que seja
Coloco cravo da índia sob o calor da luz da vela
E o canto do vento aumenta
Se transforma em palavras claras
Frases inteiras .....
Me sinto zonza como depois do ópio
Sou parte daquela areia,
Sou parte do calor insuportável
Sou parte das minhas visões alucinantes
Dos oásis incompletos
Do frio que rasga a pele e me lembra a dor
Da lua que clareia cheia
Mas não sou o vento, nem sou a figura que vejo embaralhada e nunca consigo tocar
....................................................

Mas o vento conta novamente o que sempre vem me contando desde outros Tempos, incontáveis Tempos
Fixe o olhar
Olhe com verdade
Creia no que vê
Ou no que você, só você vê
E se entregue inteiramente a este desconhecido que te acompanha neste deserto
Siga o vento e se deixe abraçar por esta parte do todo
No momento em que se olharem
Vão se reconhecer e o que era deserto se tornara luz amarela como a chama da vela
Com cheiro de cravo da índia
E a vida se tornará o Tudo e o Todo

terça-feira, janeiro 17, 2006

o Início


Madagascar a volta .....
Depois de um ano de silêncio, quero saber se ainda sinto a palavra brotar
Se ainda sinto vontade de falar
Se volto a sair de dentro do esconderijo escolhido,

Assim volto de Madagascar Oriental
Ilha de São Lourenço